Sexta a gente esta cansado, pede arrego mas, aguenta porque é sexta-feira!
Relato à vocês com orgulho que me levanto todas as manhãs com bom humor, faço caretas para mim mesma no espelho, dou o meu primeiro sorriso do dia para mim [sim! eu me amo, tá!?], olho pela janela para ver o sol nascendo enquanto me troco e arrumo minha bolsa.
Dentro do ônibus, tenho o privilégio de pegá-lo ainda vazio e muitas vezes escolho lugar na janelinha para ir sentada ouvindo a música e ver aquela mesma paisagem passar. Tudo normal... Isso que me deixa mais perturbada. Estava achando aquela sexta tão normal!
Logo que cheguei à frente do prédio onde trabalho, ouvi barulhos de tiro... Ok, nem sabia o que estava havendo, pensei ser tiro. Corri para esquina, entrei na padaria. Senti meu coração no casaco negro que usava, parecia que estava segurando ele por debaixo do casaco grosso, de tão forte que pulsava. Comprei um pão de queijo para disfarçar o medo e a desconfiança que estava sentindo. Logo avistei dois colegas de trabalho indo em direção ao prédio, resolvi me acalmar. Pensei comigo mesma, que o susto é mais o trauma que tenho de quando fui assaltada...
Caminhei em direção aos meus colegas mas logo os perdi de vista, eles tinham entrado na empresa mas eu encurtei meus passos propositalmente, ainda estava com medo do que teria acontecido.
Lá na recepção do prédio, havia muita gente. Mais gente do que de costume. E eu achando que a sexta-feira seria normal...
Alguém pulou do 8º andar. Se minha lógica esta certa, ninguém sobrevive à um pulo desses.
Meu sangue escapou do cérebro quando ouvi muita gente falando que era uma pessoa do 5º andar, é o "meu andar"!
Nessa hora eu nem sei o que pensei... senti minhas mãos tremerem, sentei na poltrona do hall. Fiquei impressionada.
Cada pessoa que passava por mim, acrescentava um detalhe do acontecido.
Não, eu não quero ir ver. Nem precisei, a riqueza de detalhes era grande. Muita gente inconformada com o que tinha acontecido com nossa sexta-feira, parava para comunicar algum colega atrasado. Era impressionante imaginar alguém conhecido, esmagado no chão... Eu respirava fundo, insistia para as pessoas que não queria olhar. Nem me aproximei das janelas do andar nesse dia, era o receio de contemplar a paisagem e olhar para baixo sem querer. O pão de queijo que comprei desceu que nem arame enfarpado. Juro que tentei mastigá-lo até virar líquido, nem água estava descendo bem.
Nem conhecia a pessoa direito mas, sempre a via, sabia seu nome, sua função, era uma pessoa simpática e parecia estar cheia de vida...
É por isso que eu não entendo...
Na verdade agora eu prefiro não entender.
Foi difícil pegar no sono... mas, de tanto pensar nisso acabei tirando uma coisa boa.
Apesar de tudo isso, sou grata por estar aqui, ter emprego, saúde, família, ser amada e ter amigos com quem compartilhar essas coisas chatas... Acho que depois disso, é obrigação minha dar mais valor ainda às pequenas coisas e á minha vida.
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